Uma importante fala no 1o Congresso Brasileiro Online de Metodologias Ativas é apresentada pela Eliana Claudia Otero Ribeiro. Ela traz uma síntese de sua contribuição no Fórum de Educação Médica Orientada por Competência na Suíça, em Agosto de 2018 – evento que antecedeu o Congresso da Associação Médica Europeia. Ao representar o Brasil neste importante fórum de discussão, Eliana leva profundas reflexões a respeito de uma formação orientada por competência.
A contribuição tem como referência um artigo de elevado impacto, publicado no periódico The Lancet: Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world (Profissionais de saúde para um novo século: transformando a educação para fortalecer os sistemas de saúde em um mundo interdependente).
O trecho a seguir, refletido pela autora do video, nos mostra as enormes potencialidades desta discussão, não apenas para os médicos e para aqueles que desenvolvem atividade na área da saúde em geral, mas para a formação de todo o espectro de profissionais contemporâneos.
“Três gerações de reformas educacionais caracterizam o progresso durante o século passado. A primeira geração, lançada no início do século XX, ensinou um currículo baseado na ciência. Por volta de meados do século, a segunda geração introduziu inovações instrutivas baseadas em problemas. Agora é necessária uma terceira geração que deva ser baseada em sistemas para melhorar o desempenho dos sistemas de saúde, adaptando as competências profissionais básicas a contextos específicos, com base no conhecimento global.” (Tradução livre)
Diante deste contexto trazemos algumas questões para reflexão e discussão em nossos comentários:
Qual é a orientação do(s) currículo(s) com o qual você trabalha?
Qual a diferença e o impacto das diferentes gerações curriculares na formação de profissionais?
Se sua área não é a médica ou da saúde, como pode transpor as contribuições da fala da Eliana para seu contexto profissional?
Como as Metodologias Ativas de Aprendizagem podem contribuir para o desenvolvimento de profissionais, amparando a terceira geração de currículos?
Olá pessoal,
Gostaria de iniciar minha contribuição aqui nesta discussão dizendo que, o currículo do curso no qual sou docente atualmente e de algumas outras iniciativas educacionais que trabalhei como facilitador dentro e fora da Fundação Escola de Saúde Pública de Palmas (FESP), tem sido orientados por competência ou de terceira geração. E me chamou a atenção de que mesmo tendo uma boa aproximação teórica-metodológica-vivencial com uso de metodologias ativas de aprendizagem e me apropriado de alguns referenciais sobre o conceito de competência como, por exemplo, o artigo “Competência: distintas abordagens e implicações na formação de profissionais de saúde” de Valéria Lima (2005), eu só conseguia reconhecer parcialmente aquilo que Eliana nos falou primorosamente, de que o processo de articulação de capacidades cognitivas, afetivas e psicomotoras e sua mobilização em atributos/desempenhos, surge a partir das problemáticas dos diferentes contextos e sua potência de oportunizar experiências significativas e singulares. Foi como se uma luz brilhasse e clareasse algo que para mim ainda não compreendia amplamente!!! Fortaleceu em mim a percepção sobre o quanto faz diferença para uma aprendizagem significativa e singularizada dos educandos, que reconhece e valoriza o inacabamento e a troca de saberes (profissional-docentes-equipes-comunidade), além disso considera suas possibilidades de construção e reconstrução do conhecimento de forma dinâmica, processual e contínua e o quanto isso tudo pode promover um compromisso social importante e a transformação da realidade em cenários complexos dos sistemas de saúde atuais.
Olás!
Primeiramente quero agradecer a contribuição da Eliana. Tive o grande prazer de conviver com ela de perto, uma grande educadora e militante, cujas reflexões sempre mobilizam novas reflexões dentro de nós.
Sobre o tema disparador da conversa deste espaço, avalio que o currículo do curso de graduação na qual sou docente é de terceira geração. A utilização de metodologias ativas em todas as unidades educacionais, currículo integrado e orientado por competências é uma composição que se aproxima da terceira geração. Claro que mesmo passados dez anos do curso, ainda temos grandes desafios e uma expressiva parte do curso sendo desenvolvida aquém da proposta original. Posso elencar alguns motivos: baixa qualificação docente na área educacional, especialmente em metodologias ativas; dificuldade na integração entre as unidades educacionais que reúnem o processamento de situações problema, simulação em ambiente protegido e prática profissional; frágil núcleo docente estruturante; frágil integração da rede escola etc. Estamos num momento importante em que se repensa a revisão do projeto pedagógico e a construção da matriz de competência dos ciclos e das unidades educacionais. Atualmente temos construída apenas a matriz de competência para o egresso, que é importante, mas não dá conta de desmembrar as competências adequadas em cada ano do curso. Gostei muito da provocação do enfoque do conteúdo das capacidades x dimensão social da competência e levarei para as plenárias docentes que virão.
Olá!
A fala da professora veio bem a calhar… Nosso NDE está repensando seu PPC, e estamos na discussão das competências. Ainda é um campo nebuloso para muitos, e o foco no conteúdo é sempre uma questão. Assim, pretendo partilhar as reflexões deste vídeo com meus colegas e aprofundar, assim, as discussões e construções.
Grata pela possibilidade apresentada!
Olá, pessoal!
Bom podermos compartilhar de um espaço interativo como este.
No momento não estou vinculada a instituições de ensino. Contudo, partilho impressões enquanto educanda recém egressa de um programa de mestrado, o qual, em uma análise crítico-reflexiva, de modo geral possui raízes ainda fincadas na primeira geração, deslocando-se para a segunda, quando o assunto é a pesquisa de dissertação. Ouso inferir que na terceira geração encontram-se os docentes que discutem sobre epidemiologia e, especialmente, o meu orientador, o que se torna insuficiente, para provocar transformação nos profissionais que por ali passam.
Por isso, fiquei instigada com as experiências de Marcos Fabiano e Aline, com a qual concordo quanto aos aspectos elencados no âmbito da docência, pois considero que extrapolar a zona de conforto e o foco no conteúdo, como exposto por Brigitte, sejam desafios postos.
A autonomia e liderança citadas por Eliana ainda caminham a passos curtos, inclusive compreendo que uma pós-graduação na modalidade stricto sensu também possui compromisso com a qualificação de futuros docentes, daí indago: como fortalecer o processo, diante da incipiente reflexão de práticas (docentes e discentes)?
Questiono ainda, em um olhar mais macro, a supervalorização das pesquisas com enfoque biologicista, por vezes, pouco acessíveis à população e indago sobre o impacto disso nas competências multiprofissionais, de forma que os profissionais da saúde passem a atender as necessidades de indivíduos e populações (tal qual trazido no artigo que referencia nossas discussões)?
As Diretrizes Curriculares Nacionais (dos cursos da saúde) são permeadas do trazido pela terceira geração, mas abertura a essa necessidade real é premente, o que requer diálogo efetivo e contínuo sobre desafios e potencialidades imbricados aos currículos orientados por competência. Mediante isso, avaliações internas e externas poderiam auxiliar nos rumos dessas conversas e nortear caminhos.
Essa delonga decorre de minhas inquietações sobre o disparador em questão. Ficarei no aguardo dos próximos compartilhamentos…
Abraços!